Poesias que moram na minha gaveta Onde a gente guarda o que não cabe mais? Como a gente trança e destrança, costura e descostura, vela e enovela, fio a fio, o emaranhado que não tem nome, mas nos agarra pela cintura pra não podermos seguir? Onde a gente guarda a preguiça, a culpa e todo vazio que parece pó, que parece nuvem viva, sufocante e branca, por vezes com forma vaga de um animal qualquer? Onde a gente acha aquele instante, deitada ao sol, de fechar os olhos e sentir, como quem fura o dedo num espinho: - doeu, acho que estou viva. Aliás, como a gente sabe se está mesmo viva? Como a gente reconhece o caminho, as pedras do caminho, a beleza das pedras do caminho, enquanto tropeça no próprio pé ferido? Como a gente pode ser mão, mãe, colo, amor, organizar as gavetas de meias, as fotografias, fazer listas de compra, decorar o RG, se olhar no espelho e não ter certeza de ser você ali? Como a gente se permite encontrar tão menos, procurar tão pouco, aceitar tão nada, s
Comentários