POESIA DE GAVETA

Poesias que moram na minha gaveta

Onde a gente guarda o que não cabe mais?
Como a gente trança e destrança, costura e descostura, vela e enovela, fio a fio, o emaranhado que não tem nome, mas nos agarra pela cintura pra não podermos seguir?
Onde a gente guarda a preguiça, a culpa e todo vazio que parece pó, que parece nuvem viva, sufocante e branca, por vezes com forma vaga de um animal qualquer?
Onde a gente acha aquele instante, deitada ao sol, de fechar os olhos e sentir, como quem fura o dedo num espinho: - doeu, acho que estou viva. Aliás, como a gente sabe se está mesmo viva?
Como a gente reconhece o caminho, as pedras do caminho, a beleza das pedras do caminho, enquanto tropeça no próprio pé ferido?
Como a gente pode ser mão, mãe, colo, amor, organizar as gavetas de meias, as fotografias, fazer listas de compra, decorar o RG, se olhar no espelho e não ter certeza de ser você ali?
Como a gente se permite encontrar tão menos, procurar tão pouco, aceitar tão nada, sentir medo de sentir porque sentir dói e é melhor viver estando morta? Como a gente sabe, mesmo sorrindo, que ainda não morreu?

Mari

#entrecriaturasamar #poesiasquemoramnaminhagaveta

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