PEQUENÍSSIMOS

Quando mal era estudante de biologia, no meu primeiro semestre de graduação, assisti a uma palestra em um encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que mudou a minha forma de enxergar a vida. O palestrante, em 1996, que infelizmente não lembro o nome, tinha uma enorme fotografia de uma pequena parte universo. Através dela, contextualizou um ser humano, dentre bilhões de seres humanos, no planeta, dentre trilhões de planetas, na galáxia, dentre bilhões de galáxias, no universo.

Dali em diante, claro, comecei a ter aquela incômoda sensação de que, provavelmente, não estaríamos sós no universo e - mais ainda - que a nossa existência aqui seria algo quase irrelevante num contexto mais amplo, ainda que não nos eximisse de fazer o melhor que pudéssemos. Pautei minha vida por esses princípios.

A saber, apenas por curiosidade, a Via-Láctea é uma galáxia – que por sua vez é um amplo conjunto de estrelas, incluindo uma grande variedade de gases e poeiras astrais – na qual está situado o Sistema Solar, do qual nosso Planeta é um dos astros integrantes. Este corpo de formato espiral engloba pelo menos duzentos bilhões de estrelas, embora alguns acreditem que o número destas esferas pode chegar a quatrocentos bilhões. No nosso pequeno Ponto Azul chamado Terra, já somos mais de 7 bilhões e 300 milhões de habitantes (contagem atualizada aqui: http://www.prb.org/) que, embora seja o terceiro planeta mais próximo do (nosso) Sol, o mais denso e o quinto maior dos planetas do Sistema Solar, é apenas um dentre bilhões ou  trilhões de planetas da nossa Galáxia, que é apenas uma dentre, quem sabe, 200 bilhões de galáxias.

Voltando ao planeta Terra, há, atualmente reconhecidos e demarcados, mais de 190 países, cada qual com grande diversidade cultural. Estima-se que haja milhares de crenças e expressões religiosas e que 6.909 línguas diferentes sejam faladas ao redor do mundo, segundo o compêndio Ethnologue, que cataloga os idiomas do nosso planeta desde 1950. Segundo a EBC, hoje no Brasil, existem cerca de 210 línguas. É o país com o oitavo maior número de línguas em uso, a maioria delas, 180, são línguas indígenas (e que na época do descobrimento eram muito mais, assim como os indígenas).

Dito isso, ao que parece, não há qualquer possibilidade de definir uma fórmula correta de como alguém deva levar a sua vida, seja por questões culturais, de livre escolha, ou essência, desde que não afetem a existência do outro enquanto ser livre e apto a fazer as suas próprias escolhas.

Aqui não me refiro a questões éticas ou morais, estabelecidas, acordadas e que devem ser respeitadas em cada sociedade - pois que o descumprimento dessas regras afetam a todos - mas de questões essenciais, íntimas e primordiais da existência de UM ser humano, como UM indivíduo, dentre aqueles mais de 7 bilhões, e que deve poder escolher seu way of life, porque, de fato, ninguém mais do que ele mesmo pode saber do que precisa para ser feliz.

Sendo assim, considerando o contexto maior, percebemos que somos todos "minoria", simplesmente porque somos únicos e quase nada. Cada qual com suas necessidades específicas, ínfimos em um contexto universal e, ao mesmo tempo, TUDO para nós mesmos e MUITA COISA para os que nos amam e com os quais convivemos nessa pequena jornada.

Então, aproveitando que ainda nos resta tempo, rogo que deixemos em paz o beijo dos outros (ou das outras), a roupa dos outros, o carro dos outros, a vida dos outros para quem, de fato, interessa: os outros.

Paremos de fiscalizar e apontar. Tratemos de viver a plenitude da nossa própria vida. Respeitemos, sim, as famílias, TODAS elas, em todas as suas multi composições e escolhas. Não "aceitemos" as pessoas, pois não faz a menor diferença, ninguém precisa de algum aval para ser quem é. Apenas cuidemos para não importuná-las com a nossa forma de ser. Deixemos em paz o amor dos outros para ter tempo de procurar o nosso próprio amor. Vamos cuidar da nossa vida como algo precioso, fazendo dela algo melhor, que valha a pena. Preocupemo-nos em sermos bons, em servir, em agregar, em deixar boas pegadas, boas palavras. Vamos espalhar amor e bons exemplos. E se estiver sobrando um tempo, façamos um bolo, uma trança no cabelo. Quem sabe lemos um bom livro ou escutamos uma música que faça nossos corações se sentirem mais leves. Preocupemo-nos, apenas, em sermos o melhor que pudermos para nós mesmos e para os demais.

E, por favor, não vamos perder tempo com aulas ensinando as crianças a amar e a respeitar, elas sabem fazer isso naturalmente se ninguém atrapalhar.

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