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Mostrando postagens de 2013

SAUDADE

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A saudade é uma presença invisível, alegre e triste. De momentos bons, de cheiros e risadas. De poemas, de músicas, de uma cor. A saudade de alguém amado que se foi vem com um sorriso e olhos cheios d´água. Por muito tempo estará em quase tudo. Depois residirá em detalhes. A saudade nunca vai embora, ela apenas parece ocupar o seu lugar na urgência do existir. Algumas vezes ela nos surpreende se ausentando por algum tempo. Nessa hora sentimos falta dela e desesperadamente tentamos encontrá-la em um objeto, uma fotografia, uma memória. A saudade nos transforma. Revela dores, reforça laços, amplia medos, afasta ou aproxima. Nos faz crentes ou descrentes, nos humaniza ou nos torna vis. A saudade nos paralisa ou nos dá forças para lutar. A saudade nos joga na cara que nem sempre podemos escolher e determina nossas próximas escolhas. Eu escolhi viver com saudade da alegria de quem já foi. Também escolhi não precisar ter saudade de quem eu amo e ainda está por perto. Que 2014 s

A PRESSA DE DEZEMBRO

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Coisa mais engraçada essa sensação de fim de ano. Parece que já acabou e ainda tem tanto por fazer. Apresentação da escola dos filhos, apresentação de ballet e patinação da filha, fechamento das notas das crianças, milhares de afazeres no trabalho (muitas que você já deveria ter terminado). Tudo tem data e hora. E você ainda tem as tarefas domésticas, organizar o natal, a virada do ano, fazer a rematrícula dos pequenos e mais tantas coisas aleatórias . Dezembro é interminável. Depois que ele passa, dá um alívio. A virada do ano é um marco. É só o ano que muda, mas a gente já se sente melhor, mais renovada. Um dia, uma noite e é o suficiente para você entrar no clima do ano que vem. Enfim, é janeiro e você tem muito tempo agora! Desmancha a decoração de natal, inventa o que fazer com a criançada em férias, começa a ver material escolar, renova a lista de afazeres e se dá um novo prazo para as tarefas inacabadas do ano anterior.  Se der sorte, tira férias e faz uma viagem em famíl

O METRO

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Quando você vê seu filho de 3 anos cortando de centímetro em centímetro seu "metro" de costura é que você se dá conta que deveria ter prestado mais atenção a uma pergunta dele antes de responder: "pode!".

NOSSO PASSARINHO

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Para um anjinho... Texto: Mariana Faria Corrêa

OS PASSOS DE MILOCA

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Não tive tempo de seguir teus passos. Tua doce figura enche de lágrimas meus jovens olhos. Passaste por aqui e nós por tua vida e acho que nunca disse o quanto te amei. A cada passo teu, uma lembrança. Te marcaste em minha vida. Não tive tempo de seguir teus passos, nem de chorar tua ida. Fecho os olhos e te vejo, jovem holandesa. Ouço tua voz me contando histórias. Deixaste comigo mais do que lembranças, te deixaste aqui. Viveste intensamente o amor e a admiração que tinhas pela vida. Levaste contigo frases e letrinhas de jornal. Deste a todos o teu triste adeusinho.  Quem te conheceu, sabe que não fostes apenas mais uma pessoa no mundo. Não lamento que tenhas ido, fizeste mais do que devias.  Só lamento não te apresentar meus filhos e dividir contigo momentos tão bonitos que ainda hei de viver. Agradeço a Deus por ter te conhecido e peço a Ele que me dê um pouco da força que tinhas.  Sei que agora estás nos braços das pessoas que tanto sentias falta. 

PARA MINHA AVÓ

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Não sei quando te vi pela primeira vez. Era muito pequena. Nessa época ainda não tinha ideia do que tu serias para mim, ou eu para ti. Te fiz avó. Penteei teus cabelos enquanto te fazias de minha boneca. Tomamos xícaras de chá com leite. Adormeci com teus carinhos de unha. Dividimos segredos, dias e noites. Dividimos espaços, lágrimas e sorrisos. Fostes meu refúgio e minha amiga, e eu a tua. Te dei meu coração. Depois, te fiz bisavó. Aumentamos as distâncias. Perdeste um pouco de mim, mas ganhaste a minha filha. Me alegrei com as tuas visitas e os teus conselhos, com os teus poemas, com as tuas ideias e histórias. Aceitei a tua forma de ser e tu a minha. Nunca nos deixamos escapar, mas lamento as vezes que não te liguei quando tive saudade. Hoje é o que tenho de ti. Nossa última conversa, minhas lembranças, nossas fotos e parte de quem eu sou. Amor e saudade a gente leva para sempre. Que você, onde estiver, esteja cercada de amigos, música e flores.

FILHOS CRESCEM COMO FEIJÕES MÁGICOS

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Quem é mãe (ou pai) sabe muito bem que filhos não crescem aos pouquinhos. Filhos crescem como feijões mágicos.  Você se dá conta disso em uma única noite, quando o coloca na cama com seu pijama de ursinho favorito e na manhã seguinte aquele pijaminha está pequeno demais. Depois disso, você começa a perceber ao vê-lo dormindo, que ele está quase do tamanho do colchão e deduz que deve ser por isso que fica cada vez mais desconfortável quando ele vem dormir na sua cama. Quando você tem uma filha, ainda mais cedo é surpreendida. Vocês planejaram juntas um lindo aniversário de 8 anos com o tema “corujas”. Uns meses antes da festa ela avisa que resolveu mudar o tema para "Festa do Rock". Pela fresta da porta do quarto, você a espia se olhando no espelho, de frente, de lado, e a flagra dando um breve e analítico tapinha na barriga. Você a vê em dúvida quanto ao que vestir e se surpreende quando ela se oferece para fazer o jantar. Fica emocionada ao ser escolhida para respond

SER MÃE DE DOIS É VIVER EM INTERVALOS

Depois que você tem filhos (sim, no plural), você descobre que o dia não se mede em horas, mas em oportunidades. Quando você era mãe de um, e já reclamava da falta de tempo, terá a chance de descobrir quando (ou se) vier o segundo, que você não sofre mais por pouca coisa. Em algum tempo, você aprende a aproveitar ao máximo as oportunidades. Ele dormiu? Você corre para tomar banho. No meio do seu banho ele acordou? Deixa o cabelo pra lavar depois. Sai enrolada numa toalha, atende o guri. Deita com ele e só acorda às três da manhã pra seguir, zumbi, até algo que pareça sua cama. Três horas depois está em pé, arrumando mochila, lanchinho saudável, vendo que esqueceu de novo de revisar a agenda da pequena no dia anterior e, sim, tinha que ter separado para mandar 45 potinhos de iogurte para o trabalho da escola. O seu café da manhã é mais ou menos entre a primeira criança ir pra escola e a segunda acordar e pedir leite, coisa de 10 minutos, um pouco mais, se der sorte. Ver TV, só depois

UM METRO DE REVOLTA

Delícia quando você sai com seus filhos para almoçar no restaurante/supermercado da cidade. Sozinha com eles, os dois super comportadinhos, todo mundo olhando, dando sorrisinhos, elogiando as crianças e você super confiante, se sentindo uma ótima mãe. De repente, o mais novo tem um chilique, sai correndo com um carrinho na mão driblando prateleiras de vinho. Você, ridícula, correndo atrás achando que consegue controlar as coisas somente com o poder da mente. Pega enfim a criança, a segura no colo, e ela se transforma num mini ogrinho, gritando (berrando!): ME LARGAAA, ME LARGA A-GO-RA! Você, com cara de paisagem, repara olhares de reprovação geral, tenta se convencer que sabe o que está fazendo. Quando, por fim, a criança enlouquecida resolve se livrar de você, nem que seja te mordendo, tamanha a indignação (acreditem se quiser), e você se desvia daquela boquinha minúscula com facilidade, daquelas mãozinhas gordinhas irritadas, e olha por um instante aquele mini ser como se não est

A VAN

- Senhor e Senhora X, favor apresentar-se no balcão da Companhia Aérea. - O que está havendo? – pergunta a esposa. - Venham comigo que estaremos informando – responde o esforçado funcionário. - Ah, não! Estamos cansados, voltando para casa, Já está na hora do embarque e os demais passageiros estão embarcando! Estamos com duas crianças, quero ter uma explicação agora! – esbraveja a esposa. - Senhores, esse voo não vai mais para Porto Alegre, mas não se preocupem, há uma van da Companhia esperando para transportá-los em total conforto do Santos Drumont para o Galeão, de onde estará saindo o voo de vocês. E será um voo muito melhor, sem escalas, direto a Porto Alegre. - E que horas chega lá? – quer saber o marido. - Na mesma hora que esse! Não se preocupem com nada. Nós pagaremos um lanche para vocês! - O que? - Um lanche, senhora. - Porque essa aeronave não vai mais para Porto Alegre? – o marido interrompe. - Senhor, chega um momento que toda aeronave deve fazer uma

OITO DENTES

João tem um grande sorriso E oito dentes Imita leão Balança o bundão Senta e levanta Ajeita a colher Coloca na boca Depois lambe o pé João é esperto Já dá cambalhota Entra em uma caixa Sai atrás da porta Escala a parede da sala Se esconde embaixo da mala Sapo, sapato, lápis, martelo Pato, caderno, carrinho, chinelo Penteia os cachinhos Escova o dentão Depois é hora da natação é tudo MINHO! Declara João Agarra a irmã e lasca um beijão Faladeiro e brincalhão Ninguém pode com o João Pisco o olho e já não está... Cadê o João? Taqui!!!! - ele responde Com seu grande sorriso E seus oito dentes (Texto: Mariana Faria Corrêa. Para Joãozinho, quando ainda tinha oito dentes | 23.06.2011)

DIA A DIA, LADO A LADO

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Texto: Mariana Faria-Corrêa Imagem da internet (baseado na canção de Marcelo Jeneci - http://letras.mus.br/marcelo-jeneci/1834894/ ) Era quase dia. Ele não havia se dado conta da hora. Estava assim há algum tempo, perdia-se nos pensamentos e nas lembranças. Dentro do apartamento uma fresta de luz entrava pela persiana quebrada. Um cheiro azedo tomava conta do ambiente. Ele não se lembrava da última vez que tinha comido, espalhadas pela sala apenas algumas garrafas de vinho. Sentia-se cansado, até mais do que isso. O silêncio da noite o atormentava, nessa hora seus pensamentos pareciam estar altos demais. Tentava parar de lembrar, de pensar, de olhar. Nas mãos, uma foto amassada e um pouco úmida por causa do suor. Há duas semanas havia música e cor naquela sala. Mal se viu sozinho, tropeçou nos sapatos dela. Quis abrir o armário e verificar que suas coisas ainda estavam ali, mas não fez. Nos dias que se seguiram ao dia em que ela se foi, ele adormecia olhando para a porta

MATERNIZAÇÃO

Quando era mais nova queria ter doze filhos. Planejei começar aos dezessete anos. Tinha também outros planos: viajar pelo mundo por tempo indeterminado, aprender todas as línguas, inventar algo importante e salvar alguma espécie ameaçada. Não fiz nada disso. Não ainda... Acabei fazendo tudo conforme o protocolo. Comecei a namorar aos 18 e casei aos 23 com meu único namorado. Apesar da minha enorme vontade de ser mãe, tive que esperar ainda alguns anos, pois, como a maioria das mulheres sabe, para o marido o momento adequado para maternidade é sempre o próximo após ele terminar o que planejou fazer logo em seguida. Aos meus 26, definitivamente, não dava mais pra esperar... e entre significativas mudanças de vida, recebemos a pequena e profunda Maira. O nome não foi nem fácil nem difícil de escolher. Apesar de nunca termos pensado, ouvido ou visto alguém que se chamasse Maira, pareceu óbvio que esse seria o nome dela. Nem todo mundo aplaudiu. A gestação foi tranquila, bonita, feliz

MENINO LUZ

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Texto e ilustração: Mariana Faria-Corrêa O menino nasceu e parecia o sol. Ele era grande, claro e quente.  Tão quente, tão brilhante, que às vezes era difícil de olhar. Todos comentavam sobre o menino luz. A mãe se envaidecia, o pai se comovia. Para o menino, na verdade, tanto fazia. O que ele queria, de verdade, era jogar bola, andar de bicicleta e correr pelado tomando picolé. O menino não sabia que era de luz. Não sabia que era diferente dos outros meninos descalços, só algumas coisas ele sabia. Sabia ver cores nos sons e sabia ler as pessoas. Ele tinha sempre suas mãos macias e um sorriso pra você. Ele também sabia de onde ele vinha e pra onde todos vão. Sabia sentir cheiros como ninguém, de medo, de fruta, de carne na panela. Esse menino era claro, radiante e acolhedor, mas o que ele queria mesmo, de verdade, era brincar com a irmã na caixa de areia.