ALMA DESVAIRADA

A minha alma, a minha tez. Como me enxergam ou quem me fez. Cada segundo do dia, cada coisa que eu fiz, nada disso me resume, ou me torna mais feliz.
Dentro de uma casca grossa, que é quase quem não sou, vive uma alma enclausurada, toda torta e agitada, esperando, entusiasmada, escutar aquele som.
E essa essência, bem maluca, de artista e de poeta, mal espera a porta aberta pra sair com muita pressa e num repente acordar.
Uma fresta pequeninha. Pra passar num dia ou noutro. Porque a casca é casca dura, mas a alma é mais malandra. Encontrando um buraquinho, sai com tudo em desatino, atropela a coisa toda.
De pequena se agiganta. Causa um turbilhão que só. Vira enorme num instante. Nada parece maior.
Vira cor e vira luz, vira som e resplandece. Num segundo ainda é noite, no outro amanhece.
Enquanto o corpo, coitado, padece de confusão, a alma cresce sem tamanho e sem dar satisfação.
Pra lá e pra cá, corre sem parar. Muda tudo de lugar. Some. Reaparece. Não tem compromisso com nada, nem mesmo politesse.
Brinca, sacode, esquece. Não sente medo, nem nada. Corre o mundo à madrugada, depois de um tempo, mais nada. Simplesmente ela adormece.
É que alma também cansa. E essa, cansando de ser assim, volta para onde veio. Dorme dentro de mim.
E a semana recomeça, sem uma maior emoção. E a alma ali quietinha, enrolada em um colchão.
Parece que está dormindo, mas é fácil reparar, que com olhos entre abertos, essa alma tão inquieta, de artista e de poeta, só espera outra fresta, pra poder recomeçar.

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