OI, CARLOS


Oi, Carlos. Não chegamos a nos conhecer pessoalmente, ainda que me sinta bem próxima a você. Não sei se somos parentes, gosto de pensar que sim, pois também carrego o Andrade, que veio aí de Minas Gerais. Como disse, você não me conhece, mas eu lembro quando conheci você. Eu tinha 15 anos. Estava distraída em uma aula de literatura. Não sabia muito sobre poesia. Até ali achava que poema e rima eram meio que a mesma coisa. Então minha professora Hilda leu "amar". Meu coração parou alguns segundos e eu senti vontade de chorar. Li, reli, 20, 30, 100 vezes. Decorei cada palavra. Eu não sabia muito sobre o amor, talvez ainda saiba pouco, mas fiz desse poema a minha forma de amar, entre criaturas, o inóspito, o que o mar traz à praia e o que nele sepulta. E a nossa falta mesma de amor, a água implícita e o beijo tácito e a sede infinita. Tantos anos se passaram desde que conheci você. Li todos os seus livros, todos os seus poemas. Por sua causa, tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo. Leio, releio diariamente e na minha cabeça recito trechos para entender muitas coisas da minha vida. Fui à Itabira, caminhei nos seus caminhos. Fui em todos os museus e exposições sobre você. Falei de você para meus filhos, meus amigos, meus alunos. Escrevi tantos e tantos poemas. Tatuei em mim uma parte do "amar" porque já carregava comigo no coração. Então, hoje é seu aniversário e eu me emociono pensando que ao deixar suas palavras escritas, deixou pra sempre um tanto de você pra mim, Carlos, como o amor batendo na aorta, dado de graça, semeado ao vento, no eclipse, na cachoeira. Como as coisas tangíveis que tornam-se insensíveis à palma da mão. Como ficam as coisas findas, muito mais que lindas. Como um retrato de família empoeirado. Então sossego sabendo que o amor, bom, o amor é isso que eu estou vendo. Obrigada. #drummond #carlosdrummonddeandrade#aniversario #entrecriaturasamar



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